Sob o domínio do desamor

Por Sarney Filho    Os laços mais fortes a ligarem os serem humanos são os sentimentos. As famílias se...

Por Sarney Filho 

  Os laços mais fortes a ligarem os serem humanos são os sentimentos. As famílias se formam por inúmeros motivos, mas, em nosso século e cultura, o esperado das uniões é que elas se formem a partir de relações de amor.

    Temos assistido, nos últimos dias, a uma onda de notícias sobre estórias dramáticas que se constituíram por um sentimento também poderoso, e que prende tantas mulheres – de todas as cores, idades e classes sociais – com grades, muitas vezes, invisíveis aos olhos da sociedade: o desamor. Li, nos jornais, um forte exemplo dessa prisão afetiva: uma das vítimas chegou a ter o maxilar quebrado, mas não denunciou o marido por pena!

    São vínculos doentios, que levam sofrimento a tantas famílias e que, em alguns casos, quem olha de fora só percebe ao se tornarem fatais. Infelizmente, não um, mas vários desses casos extremos têm chocado o país. Os homens que cometem esses crimes são considerados monstros e a sociedade clama por punição exemplar.

    Junto minha voz a essa indignação. Como homem e pai de cinco rapazes, criados em meio a muito amor e que aprenderam o respeito ao próximo e a solidariedade, os horrores que sofrem as mulheres em situações como aquelas me ferem profundamente.

    Porém, o que continuamos a não enxergar é que o cerne dessa doença está em nossa sociedade. Todos nós carregamos esse germe e o disseminamos, a maioria involuntariamente e sem perceber.
    Quando aceitamos a imposição de padrões de comportamento e beleza, e uma realidade em que a mulher, embora enfrentando dupla e até tripla jornada, receba menos do que o homem no mercado de trabalho, estamos fortalecendo esse mal.

 Como pode um homem matar sua companheira? Quando chega ao ponto de achar que a vida dela está a seu dispor, é porque já dispôs como quis do seu coração, do seu tempo, do seu trabalho, do seu corpo.

    Precisamos olhar para nós mesmos e compreender que não podemos mais ser passivos. Como legislador, sei da importância das normas para a convivência entre as pessoas. Mas, por melhor que sejam as leis, só alcançaremos a igualdade de direitos e de tratamento quando essas normas estiverem entranhadas em nós, nos nossos sentimentos, nas nossas ações cotidianas. Só assim, para que mais nenhuma mulher se veja presa pelo desamor.

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